8 histórias que mostram que a mulherada está mesmo com tudo no futebol

Willian Rodrigues
9 min readMay 13, 2020

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Atletas com passagens pelo futebol brasiliense compartilham mais do que um passado em comum, jogando com meninos e com pouca estrutura. Elas trilharam um caminho vitorioso no cenário nacional e internacional e esta lista é a oportunidade para você mostrar que entende mesmo de bola

Victória Albuquerque, com a camisa 10, marca gol pela seleção principal | Imagens: SPORTV

Reportagem: Willian Rodrigues, Rômulo Maia e Vinícius Ferreira

Real Brasília e Minas Brasília representam a nata do futebol feminino no Distrito Federal, sendo os atuais campeão e vice campeão do Campeonato Brasiliense, respectivamente. Ao contrário do futebol masculino candango, que desde 2005 não vê nenhum time nas séries principais do Brasileirão, são as meninas que representam Brasília na elite nacional. Em 2020, o Real está na série A2 e o Minas Brasília na A1 do Campeonato Brasileiro.

O Campeonato Brasiliense de Futebol feminino já teve 23 edições, até 2019, e o maior vencedor é o Cresspom, com sete títulos. Apesar da longa estrada, as meninas ainda batalham, por melhores estruturas, oportunidades e a chance de viver como profissionais.

Mais do que falar de títulos, o que separamos para vocês são oito histórias inspiradoras, com curiosidades dessas atletas que passaram pelo futebol candango.

1 — VIC, UM POUQUINHO DA CEILÂNDIA NA SELEÇÃO

Foto: Victória Albuquerque (na foto com a camisa 10 comemora seu primeiro gol pela seleção principal — foto de arquivo pessoa
Victória Albuquerque, com a camisa 10, comemora seu primeiro gol pela seleção principal | Foto: arquivo pessoal Victória Albuquerque

Victória Albuquerque (22 anos, meia atacante), que iniciou sua carreira nas quadras da Ceilândia, participou dos anos vitoriosos do Minas Brasília. “Foram sete anos muito intensos, de muitas conquistas. A gente conseguiu levar o Minas para um lugar que talvez ninguém do Brasil esperava e hoje tem o carinho do torcedor Brasileiro. Eu fico feliz de ter feito parte disso”.

Ela, que tem passagens pela Seleção de base do Brasil, fala ainda dos treinamentos no Minas e da ascensão ao Corinthians, seu time atual. “Os treinamentos do Minas eram sempre muito bons, eu treinava bastante, inclusive fora do clube também, treinava com homens. Minha saída do Minas foi como um prêmio pra mim”, afinal, foi a chance de entrar para um grande clube nacional. “É óbvio que eu fiquei um pouco aflita por ter deixado pessoas que eu amo pra trás, mas sou muito grata pelo que vivi lá, e espero também um dia terminar minha carreira lá”.

Sobre as passagens pela seleção, ela revela o drama de atletas que iniciam tão jovens e vivem o desafio de dividir o tempo com a escola. “Tive algumas dificuldades em conciliar os estudos, porque tinha algumas convocações para as seleções de base, então eu não consegui me formar, não consegui me dedicar 100% nas duas coisas”.

A dedicação é o caminho para quem quer ir longe. Tem craque local que já conquistou até título internacional, a Copa Libertadores da América.

2 — MILENINHA. DA BASE DO MINAS PARA A GLÓRIA NA AMÉRICA

Milena Barreto, ao centro, em jogo com o Minas Brasília pela Copa do Brasil Sub 18, contra o Fluminense | Foto: arquivo pessoal Milena Barreto

O Minas Brasília é um dos poucos times do DF que conta com uma categoria de base. A proximidade dessa base com o time profissional proporciona uma melhor preparação dessas meninas. É o que conta Mileninha (Milena Barreto, 17 anos, atacante): “os treinamentos eram muito intensos, pelo fato da gente treinar com a equipe adulta”.

A jogadora, que se destacou na Copa do Brasil Sub-18 pelo clube candango em 2019, foi contratada neste pelo Internacional-RS, com quem levou a Copa Libertadores da América do ano passado, sagrando-se artilheira da equipe. Para a meia atacante, o início em Brasília fez toda a diferença. “O Minas dá uma importância muito grande para a base. Foi essencial”, reconhece o impulso que o time candango deu em sua carreira.

Assim como Mileninha, outras atletas também valorizam a base e a estrutura do clube, sendo fundamentais para o crescimento de todo jogador.

3 — HULK. EM BUSCA DE MAIS UM TÍTULO NACIONAL

Hulk posa fazendo sua famosa comemoração, após jogo do candangão feminino | Foto: arquivo pessoal Marcela Hulk

Marcella Hulk (Marcella Bezerra, 33 anos, atacante) tem esse apelido pelas semelhanças com o ex-atacante da seleção Hulk: estilo de jogo, faro de gols, além do chute forte. Ela voltou ao Brasil em 2019, para atuar no Minas Brasília, após uma difícil passagem por Israel, pelo Maccabi Hadera, em busca de mais um título nacional (foi campeã com o Flamengo em 2016).

Ela comentou sobre as diferenças entre o futebol brasileiro e o de Israel. “O futebol em Israel é bastante brigado, sem muita técnica. A estrutura é ruim se comparada ao Brasil, porque lá o futebol ainda é bem amador. Eu treinava três vezes na semana, pois de sexta para sábado tem o shabat, quando não se pode fazer nada. Estava acostumada com treinos dois períodos no Brasil, cinco vezes na semana, ai pra não perder o preparo ia para academia”.

Sobre os pontos positivos do Brasil, ela cita principalmente a qualidade dos jogos. “O futebol tem melhorado aqui no país, temos cada vez mais atletas com boas qualidades nos representando, e ainda temos a vantagem de ter os jogos gravados, que nos ajudam a melhorar nos fundamentos e analisar os adversários. Essa evolução ajudou muito no equilíbrio e na evolução do futebol feminino aqui. Ainda é pouco, mas estamos avançando”.

E por falar em experiências fora do Brasil, a peruana Steff é um dos reforços de peso para o Minas na temporada.

4 — STEFF. DAS RUAS DO PERU PARA OS CAMPOS DO BRASIL

Atacante Steff marca em partida entre Universitario e Alianza Lima, em 2019 | Imagens: UCI — Peru

A história da peruana Steff (Steffani Ethel Otiniano Torres, 27 anos, atacante) divide muitos detalhes em comum com outras atletas, tendo começado a jogar na rua, com outras crianças. “O começo da minha carreira começou com meus amigos, a gente sempre jogou na rua”. Mesmo fazendo escolinha de futebol, foi na rua que ela aprendeu a jogar, até completar 14 anos e ser levada para a capital Lima, para jogar no Real Maracanã. Lá ela permaneceu até os 19. Após um período vitorioso, a atleta ficou 2 anos longe do esporte, voltando a jogar nos gramados Brasileiros em 2014. A atleta só veio para o Minas, porém, após os jogos Pan Americanos de 2019.

Dos tempos em que jogava no Peru, ela resume as condições do futebol do seu país. “O futebol do Peru ainda está crescendo só que falta muito apoio, das empresas privadas, da Federação. Nesse tempo antes de acontecer os Pan Americanos, o futebol não era conhecido, as pessoas nem sabiam que tinha uma seleção peruana feminina. O Pan Americano, que foi lá no Peru, abriu as portas para que o pessoal saiba do futebol feminino”. E completa: “Isso nos ajudou muito (para que) o futebol feminino lá no peru se profissionalize, e para que os times lá tenham a responsabilidade de ter uma equipe feminina, (com) uma estrutura. A gente ainda está lutando para elas se dedicarem só a jogar futebol”. Na competição internacional citada, Steff foi a única jogadora do time a marcar gols. Os dois gols do Peru foram dela.

O futebol feminino também sofre de comparações com o futebol masculino. A goleira Keikei pôde comparar essa diferença entre o Real e outros times do Brasil.

5 — KEIKEI. EXPERIÊNCIA DOS GRANDES PARA O REAL BRASÍLIA

Keikei comemora o título da Copa Paulista pelo Palmeiras | Foto: Rebeca Reis

Keikei (Keissyane Lima dos Santos, 24 anos, goleira), que atua no gol do Real Brasília e já jogou em grandes times do Brasil, ressalta a importância do tratamento profissional das atletas que é dada pelo clube candango. “A gente é tratada igual o masculino. Não tem nada de diferente, a gente usufrui de tudo que o masculino usufrui, e isso é muito importante para a modalidade”.

Essa profissionalização é essencial, pois não basta criar o time, é o apoio que leva ao crescimento do esporte e das atletas. Ela continua: “Eu acho que em nenhum outro clube eu fui tão bem tratada profissionalmente. Em alguns outros clubes acontece que, por mais que sejam ‘de camisa’, as atletas do feminino são tratadas como amador”. E completa: “No Real isso não acontece, e eu estou bem feliz com essa postura”.

A também goleira Flavinha, com passagem por clube universitário no exterior, conseguiu criar uma boa base tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.

6 — FLAVINHA. JOGANDO NA TERRA DO TIO SAM

Flávia foi goleira no Columbia Lions, EUA | Foto: Columbia University

Flavinha (Flávia Guedes Costa Rosado, 25 anos, goleira) jogou no Columbia Lions entre 2014 e 2017, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos e tem boas lembranças desse período. “A minha experiência lá nos Estados Unidos foi incrível. Eu tive a oportunidade de jogar a liga universitária. Ganhei vários prêmios. Aprendi muito sobre a metodologia do futebol americano, como que eles jogam, como é muito mais físico do que técnico, diferente do Brasil”.

As condições oferecidas também chamaram a atenção de Flavinha:

Além de enaltecer a infraestrutura do time americano, ela compara ao que encontrou na equipe brasiliense. “O Real tem um CT de alto nível, que é difícil de se comparar com outros CTs aqui do Brasil. A gente tem vários campos, a nossa fisioterapia e academia são do lado do campo. Tudo que a gente precisa está sempre ali do lado”.

O sonho de jogar no exterior é também o sonho de muitas jogadoras, seja nos Estados Unidos ou na Europa

7 — ROBINHA. LEVE, RUMO À ITÁLIA

Robinha, à direita, divide bola com jogadora do Internacional-RS em jogo pelo Minas Brasília | Foto: arquivo pessoal Rayane Oliveira

Robinha (Rayane Oliveira, 25 anos, meia) é uma das atletas de destaque da equipe do Minas Brasília, desde seu início vitorioso. Atleta oriunda do futsal, ela fala sobre o início no Paranoá e da ida para Santa Catarina, sua primeira experiência fora. “Foi um começo difícil, sem apoio familiar e tendo que jogar entre os meninos, já que poucas meninas praticavam a modalidade. Comecei na escolinha do Paranoá, que valorizava bastante a disciplina, e assim fui evoluindo como ser humano. Após um bom campeonato na libertadores, fui convidada a jogar no Barateiro, de Santa Catarina, e de lá tive a chance evoluir meu futsal”, relembra.

Após boa passagem por lá, ela teve a chance de voltar a Brasília e defender o Minas Brasília, passando a ser uma peça-chave no desenvolvimento do time, como ela relata. “Fui convidada pela Nayere e pela Nayara a jogar um campeonato curto por elas. Joguei bem, me identifiquei com a equipe e resolvi ficar. Pelo Minas Brasília ganhei vários campeonatos, incluindo a segunda divisão feminina, um feito histórico da equipe. Foi aí que tive a chance de ir pra Europa, realizar um sonho de criança de jogar lá, e depois voltei pra Brasília pra ajudar o Minas Brasília, como gratidão ao que fizeram por mim, e desde então continuei na equipe.

E se a experiência de jogar no exterior é importante para Robinha, como traduzir a importância da participação em um documentário gravado na sua cidade natal?

8 — RHAIZZA. ESTRELA NO ESPORTE E NAS TELAS DO MUNDO

Rhaizza, quando atuava pelo Vasco | Foto: — assessoria de comunicação do Vasco da Gama

Nem só de esporte vivem as atletas. A jogadora que acaba de chegar ao Real Brasília, Rhaizza (Rhaizza Sthefani Luiz Cabral, 21 anos, atacante), irá estrelar um documentário ao lado de outros atletas que saíram de comunidades no Rio de Janeiro.

Ela jogou a taça das favelas pelo Corte Oito, de Duque de Caxias de 2017 a 2019, acumulando vários títulos. Mas tem sido acompanhada de perto pela equipe de filmagens da Connection Films (produtora brasileira) e da Norte americana Scheme Engine. “Já estou há um ano com eles, né, eles acompanhando minha vida, minha vida fora do futebol, e me deram uma oportunidade muito boa”. A produção será lançada em 2021 nos Estados Unidos.

O documentário vai acompanhar a vida de atletas de vários esportes. “É muito legal estar fazendo parte disso, é importante demais pra minha carreira”, citando a importância quanto a visibilidade e quanto à representatividade de alguém vindo da favela.

A história do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, tem muitas curiosidades. Atletas Brasilienses e de fora deixaram claro que é preciso maior investimento dos times e das outras instâncias. Mas você pegou algumas curiosidades escondidas? Faça o teste no caça-palavras e veja se você está por dentro do futebol feminino candango.

CAÇA PALAVRAS

  1. Campeão do Campeonato Brasiliense de 2019?
  2. Quantas edições do candangão feminino já foram disputadas?
  3. Qual o nome da primeira equipe campeã do futebol feminino em Brasília?
  4. Qual a equipe que possui mais títulos do candangão feminino?
  5. Diferença entre o futebol dos Estados Unidos, de Israel e do Brasil?
  6. Outra modalidade de futebol, sendo o início do futebol para muitas meninas?
  7. Representante do futebol feminino de Brasília na elite do futebol nacional?
  8. Cidade de origem da jogadora Vic Albuquerque?
  9. Quantos times representam o futebol Brasiliense a nível nacional?
  10. Posição em que jogam as atletas Keikei e Flavinha?
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